Dica de leitura - O outro lado do Pokémon Go

Dica de leitura - O outro lado do Pokémon Go

Dica de leitura - O outro lado do Pokémon Go

19/08/2016

Como muitos já disseram, o novo jogo recém-lançado mescla a fantasia com a realidade e vai aonde nenhum outro antes chegou.

Ao usar funções de GPS e câmera do telefone celular, o jogo projeta sobre nosso entorno geográfico uma camada de realidade imaginária ao reproduzir no ambiente pequenos monstros, momento no qual o jogador precisa caçar e capturá-los, o que lhes confere uma pontuação. Ao fazer isso, o usuário pode viver algumas doses de excitação, humor, diversão e, obviamente, certo perigo, quando esses dois mundos se encontram. (1)

Desnecessário descrever os eventuais acidentes que podem ocasionar em função da falta ou do desvio de atenção, ao colocar o indivíduo em ações de risco, que o jogo, a certa altura, “trava” e que, finalmente, onde não há sinal da internet, ele simplesmente deixa de funcionar. Por exemplo, conta a mídia estrangeira, de maneira bem-humorada, que o medalhista olímpico Kohei Uchimura, ao chegar a São Paulo – sem se dar conta que estava usando a função roaming internacional de seu celular -, gastou mais de US$ 5 mil apenas “caçando os monstrinhos“. (2)

Mas ironias à parte, há o lado reverso da moeda.

Alguns profissionais de saúde mental, apenas citando um exemplo, chegam a sugerir que pessoas com depressão e fobia social façam uso do aplicativo, pois ele naturalmente impeliria a uma maior interação social ao tirar pacientes de seu quarto e fazê-los se relacionar, além de, obviamente, despertar novos interesses. (3)

Claramente podendo cumprir uma função terapêutica, minha opinião é a de que essas pessoas, embora estejam “animadas” em suas empreitadas, elas ainda habitarão suas bolhas, vivendo através de uma realidade paralela e, acima de tudo, ignorando aqueles que estão à sua volta.

Portanto, que me perdoem os colegas, mas o argumento é bastante frágil. Devo dizer que eu jamais indicaria a meus pacientes com depressão ou com fobia social usar o Pokémon Go como ferramenta auxiliar de enfrentamento dos problemas psicológicos.

Além disso, cá entre nós, afirmam especialistas em jogos que a lógica do aplicativo é repetitiva e, diferente de outras modalidades de entretenimento digital, não requer muita criatividade para ser usado. Não é por isso, entretanto, que ele não produza uma resposta negativa ao evocar doses expressivas de ansiedade em seus usuários (imagine então nas crianças?).

E a ansiedade, caso você ainda não saiba, está ligada ao cortisol. O cortisol, como sabemos, é um hormônio cuja função é a de ajudar o organismo a reduzir inflamações, controlar o estresse etc. Entretanto, nos casos de estresse crônico, faz com que o cortisol provoque ganho de peso, insônia, diminuição do sistema imunológico, dentre outros efeitos não lá muito positivos.

Assim sendo, tomando por base uma análise mais recreativa, claro, ele pode ser usado. Mas, uma pergunta ainda me inquieta: qual seria a dose ideal de exposição diária para que o Pokémon Go não produza consequências indesejáveis?

Além de um pouco de exercício físico, quais benefícios psicológicos (ou pedagógicos) ele traz?…

Desta forma, ainda acho bastante controverso dizer que o jogo é “legal” apenas porque, aparentemente, crianças e adolescentes (adultos também, vários, diga-se de passagem) parecem estar se divertindo.

Como todos sabem, os jogos viciam e, com eles, uma outra porta se abre, principalmente, aquela ligada às dependências e aos vícios comportamentais (que provocam a liberação de dopamina, inclusive). Muitos dependentes de internet e de celular também me dizem o mesmo, sabia?

Portanto, que tal zelar por nossos pequenos ao desenvolvermos uma postura mais atenta a respeito das “coisas” eletrônicas?…

Para se pensar, não é mesmo? Mesmo que talvez muitos não concordem comigo, o Pokémon Go tem, sim, um outro lado menos recreativo e mais preocupante.

 

Fonte: Dr. Cristiano Nabuco

http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2016/08/09/o-outro-lado-do-pokemon-go/

 

Referências
(1) https://www.buzzfeed.com/josephbernstein/pokemon-go-8-problems-that-coul...
(2) http://english.kyodonews.jp/news/2016/08/424110.html
(3) http://www.sciencealert.com/pokemon-go-is-reportedly-helping-people-with...