Dilemas na educação dos filhos

Tecendo Diálogos | Como a Disciplina Positiva pode ajudar
10/05/2021

Vivendo há mais de um ano num contexto de pandemia mundial, regido pela instabilidade e pelas incertezas, as famílias já percebem em seus(suas) filhos(as), sejam crianças, sejam adolescentes, algumas consequências das mudanças ocorridas em suas rotinas, desde o ensino remoto ou híbrido à paralisação ou limitação das diversas atividades que faziam parte do cotidiano deles(as) e lhes asseguravam um dia a dia conhecido e previsível.

A rotina escolar envolve diferentes e numerosas atividades que pretendem estimular aprendizados, competências e habilidades novas. Para tanto, na maioria das vezes, são ações desafiadoras que exigem algum nível de motivação, empenho, atenção e repetição, aspectos que podem estar comprometidos pela situação que essas crianças e jovens estão experimentando.

Na busca por tentar oferecer o suporte adequado para que seus(suas) filhos(as) passem por este período sem danos maiores, cada família procura dar o que acredita ser o melhor para eles(as) naquele momento. No entanto, alguns dilemas parecem ser mais inquietantes, como:

- Em que circunstâncias é preciso exigir esforço e persistência?

- Como e quando acolher o cansaço, a apatia e o esgotamento dos(das) filhos(as) e qual o momento de incentivá-los(las) a se reerguer e se superar?

- Qual a medida certa para equilibrar, em seus papéis de pai e mãe, a flexibilidade e a cobrança necessárias?

Para tentar sanar esses dilemas, buscamos ajuda na teoria da Disciplina Positiva, que esclarece que as crianças e os adolescentes, muitas vezes, estão confusos sobre como alcançar os objetivos que têm para si ou aquilo que se espera deles, não tendo ainda o conhecimento, a habilidade ou a maturidade para atingi-los. No entanto, essa teoria defende que eles querem, primordialmente, serem aceitos e valorizados, inclusive em suas limitações, e que o papel dos pais é ajudá-los a desenvolver o que precisam em um ambiente de gentileza, firmeza, dignidade e respeito.

Diante de uma situação controversa, em que a criança ou o jovem não responde conforme o esperado pela família, a Disciplina Positiva sugere que pais e filhos(as) busquem se comunicar com efetividade, de forma que todos tenham oportunidade de discutir soluções para os problemas e escolher aquelas que respeitem a todos. Para isto é recomendado que haja um espaço reservado na rotina familiar para esse diálogo acontecer periodicamente.

A proposta para o momento é passar a focar em soluções, e não no problema. Quando este é identificado, deve-se abrir espaço para refletir sobre o que aconteceu, o que está errado na situação, por que o(a) filho(a) acha que aquilo ocorreu, como se sente diante do ocorrido, o que pode aprender com isso e quais ideias tem para resolvê-lo, mostrando confiança, encorajando-o(a) a assumir uma postura de compromisso e estimulando a sua autonomia.

É interessante que o adulto, em vez de fazer exigências à criança ou ao adolescente, ofereça opções de escolha respeitosas e que atendam à necessidade da situação. Sentindo-se participante ativo, ele(a) poderá fazer melhores escolhas e manter-se mais comprometido(a) com o processo. Uma vez decidido, a família precisa dedicar um tempo para treinar com ele(a) as habilidades necessárias para a resolução efetiva daquele problema.

Outro ponto relevante dessa teoria é a necessidade de explorar, antecipadamente, junto ao seu(sua) filho(a), quais serão as consequências naturais e lógicas de cada uma de suas escolhas. Aqui não se refere a definir uma punição para o caso de ele(a) optar por não realizar aquilo que precisa, mas a levá-lo(la) a compreender que, para cada decisão tomada, existe algo que, naturalmente, tende a acontecer. Quando ele(a) amplia sua dedicação ao aprendizado, por exemplo, provavelmente vai sentir-se mais seguro(a) e mais conectado(a) à explicação do professor, terá melhores notas, poderá passar por média e não perder as férias. Ao contrário, quando se acomoda ou procrastina, a consequência natural é que não aprenda o suficiente e possa vir a sentir-se inseguro(a), tirar notas mais baixas etc.

Facilitar que o(a) filho(a) compreenda que os privilégios dos quais usufrui são respostas ao cumprimento de seus deveres e tarefas e permitir que ele(a) conheça e, se for seguro e adequado, vivencie as consequências naturais e concretas de suas ações, desenvolve sua autorresponsabilidade. Caso contrário, terá mais dificuldade em aprender a responder pelo próprio comportamento se os adultos assumirem esse compromisso para si, frequentemente repetindo lembretes ou resolvendo problemas por ele(a).

Educar é tarefa árdua porque não se sustenta em manuais ou tem período de validade. É uma receita sempre nova que solicita, no mínimo, continuidade, adaptação, flexibilidade, repetição, muito afeto e colaboração mútua. Os conflitos são inerentes à educação e, por isso, devem ser considerados como marcos de mudanças e de aprendizado.

A Disciplina Positiva apresenta mais algumas ferramentas valiosas para os pais quanto ao gerenciamento de conflitos:

  • Diante de uma situação de conflito, observe como estão as emoções (suas e de seu(sua) filho(a)) e escolha o melhor momento para o diálogo, quando ambos estiverem calmos e preparados para a reflexão.
  • Incentive seu(sua) filho(a) a colocar o problema na pauta da reunião de família, que se indica que seja semanal.
  • Escute-o(a). Ele(a) estará mais disponível para ouvir se sentir-se ouvido(a) também.
  • Faça perguntas que estimulem a sua curiosidade e evite longos discursos.
  • Dê ênfase aos pontos fortes e reconheça os aspectos que estão indo bem, encorajando a autoavaliação.
  • Valorize e reconheça o aprimoramento, não a perfeição.
  • Use o encorajamento em vez do elogio, pois este último leva à dependência do outro, enquanto o primeiro gera autoconfiança.
  • Evite a crítica. Pergunte: O que você precisa fazer para alcançar seus objetivos?
  • Ajude-o(a) a fazer reparações por seus erros e ensine a ele(a) que são oportunidades maravilhosas para aprender.

Em situações atípicas como a atual é natural que sejamos afetados pelo medo do novo e pela insegurança quanto ao futuro. Quando envolve o futuro dos filhos, aparentemente comprometido pelo presente que estão vivendo, a angústia se torna ainda maior. No entanto, é necessário lembrar que crianças e jovens são seres em constante transformação e evolução, são capazes de saltos inimagináveis, especialmente quando acreditam em si mesmos e sentem que são amados e valorizados em suas potências.

Por fim, sabemos que águas mais calmas e seguras nos aguardam em breve para que possamos usufruir dos aprendizados vividos durante a tempestade.

 

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Serviço de Psicologia Escolar - SPE

 

(Referência Bibliográfica: Disciplina Positiva: O guia clássico para pais e professores que desejam ajudar as crianças a desenvolver autodisciplina, responsabilidade, cooperação e habilidades para resolver problemas. Autora: Jane Nelsen)

 

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