Tecendo Diálogos

Funções executivas e seus benefícios para a aprendizagem e para a vida

26/08/2021

O ser humano, desde sempre, manifestou curiosidade e interesse sobre a função ou a relação da atividade cerebral e o comportamento humano. Ler, reconhecer, lembrar, calcular, conversar, escolher são tarefas simples do dia a dia e até de situações de maior complexidade. A percepção, atenção, memória e linguagem precisam estar em um nível adequado de funcionamento e interação para realizarmos com sucesso as atividades do nosso cotidiano.

As neurociências abrem um campo interdisciplinar de estudos e pesquisas que vêm desvendando e contribuindo para o processo evolutivo e global das aprendizagens: Como aprendemos? É possível treinar habilidades cognitivas? Por que investir no desempenho de funções do cérebro? 

O investimento na capacidade de conservar e trabalhar com informações, focar pensamentos, filtrar distrações e se adaptar a novas demandas são habilidades cognitivas importantes realizadas pelo nosso cérebro. Elas são chamadas pelos cientistas e pesquisadores de funções executivas e de autorregulação e dependem principalmente de três tipos de funções do cérebro: memória de trabalho, flexibilidade mental e autocontrole

Usamos a memória de trabalho (também chamada operacional) todos os dias para realizar várias tarefas. Ela é uma habilidade que nos permite integrar duas ou mais ações, relacionar um novo conceito com ideias prévias e reter informações enquanto prestamos atenção a outra situação. Já a flexibilidade mental (ou cognitiva), de forma resumida, está associada à capacidade de nos adaptarmos e tolerarmos as alterações ou novas situações do cotidiano. E o autocontrole é uma função importante para que as crianças e adolescentes permaneçam atentos, ajam de forma menos impulsiva e consigam ficar concentrados na atividade proposta do momento.

É relevante destacar que o ser humano não nasce com essas habilidades, mas possui o potencial para desenvolvê-las e amadurecê-las ao longo da vida. Quando é dada à criança a oportunidade de desenvolver, de maneira apropriada, suas funções executivas e de autorregulação, os benefícios para si e para a sociedade são amplos, como: bom desempenho escolar, atitudes e comportamentos saudáveis, trabalho bem-sucedido, relacionamentos positivos etc.

As crianças e adolescentes vivem suas experiências cotidianas em ambientes de relacionamentos e de trocas com outras pessoas. Entre estas, estão os adultos que possuem papel significativo em suas vidas, como os familiares, cuidadores e professores. É através da interação com esses adultos “especiais” que suas funções executivas e de autorregulação podem ser estimuladas. Isso acontece quando tais adultos:

  • Apoiam os seus esforços, compreendendo as pequenas e importantes conquistas;
  • Incentivam a formação de novos hábitos e de novas habilidades;
  • Delegam e acompanham o exercício de responsabilidades possíveis de serem atendidas no cotidiano de acordo com a fase de desenvolvimento;
  • Participam e supervisionam as atividades em que as novas habilidades são vivenciadas;
  • Orientam sobre como planejar e tomar decisões para atingir metas desejadas;
  • Fornecem uma presença consistente e confiável com a qual as crianças e adolescentes possam contar;
  • Protegem de violência e de adversidades crônicas, porque o estresse tóxico causado por essas situações pode prejudicar os circuitos cerebrais necessários para funcionamento executivo e pode gerar um comportamento impulsivo de “agir agora e pensar depois”.

 

O desempenho das funções executivas também impacta de forma significativa na capacidade de tomar decisões, no agir mais autônomo e independente e na manutenção da autonomia, da independência ao longo da vida, aspectos tão necessários para um desenvolvimento pessoal saudável e para uma convivência positiva em sociedade. Exercícios de ordenação de palavras, jogos de estratégias, atividades de interpretação e que estimulam a linguagem oral e escrita também podem ser recursos nessa proposta.

Investir no desenvolvimento das funções executivas têm impacto na vida social, afetiva e intelectual desde a infância até a vida adulta, formando pessoas atentas às suas ações, pensamentos e emoções, contribuindo para uma sociedade mais pacífica e ética.

 

Fonte: "Construindo o sistema ‘de controle de tráfego aéreo’ do cérebro: Como experiências iniciais moldam o desenvolvimento da função executiva".

www.developingchild.harvard.edu/resources

 

Serviço de Psicologia Escolar e Orientação Educacional