Como é possível voar

30/09/2016

Era mais uma tarde de gravação de vídeos na biblioteca da Escola. Eu e Luciana mirávamos nossa câmera em uma mesa específica onde estavam sentados três alunos. Quem visse aquela mesa tomada por réguas, cartolinas, colas e tesoura notaria apenas a bagunça produzida por Maria Clara, Isabel e João. Mas bastava deixar seu olhar se demorar um pouco mais naqueles garotos para perceber os três pares de mãos a transformar tais materiais em verdadeiros foguetes em miniatura.

Maria Clara, Isabel e João formavam uma equipe que, no começo do ano, participou de uma competição nacional de foguetes feitos de garrafa e papel. Pedimos para que eles nos mostrassem como eram feitos esses foguetes e eles prontamente aceitaram a proposta.

Conforme ia ficando pronto, percebi que cada foguete tinha cores próprias e acabamentos distintos, como se os três alunos tentassem colocar em suas obras um pouco de suas próprias personalidades. “E voa mesmo?”, perguntei, intrigado. E eles me devolveram um “mas é claro que voa”, entre olhares e risos.

Foi então que nos dirigimos ao jardim da Escola, cada qual com seu foguete embaixo do braço. Uma nova surpresa: diferente do que eu havia pensado, os foguetes não podiam ser lançados ao mesmo tempo e ejetados apenas por uma pessoa, eram necessárias duas ou três para fazer o voo acontecer. Enquanto um deles segurava o foguete junto ao lançador, o outro ficava responsável por pisar na garrafa que impulsionaria o objeto e, por fim, o terceiro era responsável por pegar o foguete aterrissado.

O que poderia ser uma experiência competitiva acabou se transformando num gesto colaborativo e, no fim das contas, já não existia mais a preocupação com qual foguete voou mais alto, mas sim a empolgação de fazer os foguetes voarem.

E eles voaram. Mais alto e mais rápido do que eu poderia ter previsto. Voaram tanto que, durante as gravações, acabamos perdendo dois deles: um atingiu uma das árvores mais altas, e por lá ficou, sem que pudéssemos mais vê-lo; o outro atravessou os muros da Escola e se perdeu na vastidão do mundo. O terceiro foguete, por sua vez, tem sua trajetória registrada em vídeo e encontra-se na nossa sala até hoje. Toda vida que olhamos para ele, nos lembramos desses garotos que nos mostraram como é possível voar.

Victor Costa Lopes – cineasta e colaborador do Santa Cecília
 

Notícias Relacionadas

Rede Damas Educacional divulga Relatório Social 2023.
Os Educadores do Colégio Santa Cecília elegeram a nova CIPA para a gestão 2024 a 2025.
O tema deste ano é “Fraternidade e Amizade Social”.