Lúcia: uma educadora que sabe ouvir

17/07/2015

Quase 30 anos de Escola. Você sabe lá o que é isso? É pensar o Santa Cecília a partir da história de cada um que viu o tempo passar constituindo esse espaço de aprendizado e compartilhamento de vidas. É crescer junto, ver a Escola se expandir, enfrentar cada obstáculo de braços dados com os que vieram e os que virão, é saber que a vida é “harmonia entre mente, corpo e espírito”.

Lúcia Elizabeth Moura, depois de 29 anos de Escola, Coordenadora Geral do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio, deixa o Santa Cecília para viver um merecido período sabático, dedicado à família. Os seus afetos (ah os afetos!) são o tempo vivido e tudo que ele veio trazendo...    

Natural de Juazeiro do Norte (orgulho!), ela chegou iniciante à Escola, dedicou os seus melhores anos, imprimiu sua marca de seriedade e retidão, foi da sala de aula à Coordenação Geral. Um conselho, ela daria: “Afinem a audição! Esses meninos e meninas estão sempre querendo nos dizer algo!”

Lúcia Elizabeth, o Santa Cecília é gratidão.   

Interatividade – Lúcia, quantos anos de Santa Cecília e como foi a sua chegada à Escola?
Lúcia Elizabeth
– Quantos anos! Foram 29 anos completos... Cheguei pelas mãos da Madre Chantal Trigueiro, que fez a minha entrevista de admissão. Foi ela e a Irmã Françoise, coordenadora do 5º ano, que conduziram os meus primeiros passos profissionais. Embora minha graduação seja em Pedagogia, com foco em Supervisão Escolar, cheguei ao Santa Cecília para ser professora do 5º ano, das disciplinas de História, Geografia e Educação Moral e Cívica. Logo me tornei coordenadora da Área de Estudos Sociais e, em seguida, assumi a Supervisão. Daí, quando Irmã Celeste foi transferida, assumi a Coordenação Geral. Pisei literalmente o chão da Escola. Talvez esta experiência tenha facilitado a minha ação na complexa função de Coordenação Geral.

I – Uma lembrança dos primeiros tempos que sempre volta?
LE –
Difícil apenas uma lembrança! São tantas vivências... Comentarei duas, tudo bem? Como falei, iniciei no Colégio como professora da área de Estudos Sociais. Tinha um desejo enorme que os alunos vissem o mundo como ele é: com suas cores, seus cheiros, suas alegrias e suas lutas... A essa época, a Escola já dava sinais de que precisava mudar. Daí, junto aos professores da área de Estudos Sociais, pensamos em um projeto multidisciplinar. Elegíamos com os alunos de cada série o local que daria condições de vivermos os conteúdos vistos em sala de aula. Em momentos anteriores às viagens, tínhamos encontros para estudos! Assim nasceu o Pronovo, projeto que deu origem ao fantástico Projeto de Viagens. Estivemos na Amazônia, participamos das manifestações dos cem anos da destruição do Arraial de Canudos, e em São Raimundo Nonato (Piauí), entre outros locais. Tudo era feito com muita competência, dedicação, amor mesmo. Lembro-me que, antes da viagem a São Raimundo Nonato, o professor Robério foi inspecionar as condições. Até chegar lá foram três ônibus: Fortaleza–Juazeiro do Norte (Ceará); Juazeiro do Norte–Petrolina (Pernambuco); Petrolina–São Raimundo Nonato (Piauí)... Fomos pioneiros dedicados! A outra lembrança forte foi a chegada de Irmã Eulalia. Ela foi a minha terceira diretora: jovem, cheia de ideias, tocando violão, cantando e evangelizando a nós, profissionais da Escola, nos Encontros Pedagógicos mensais, com um ardor missionário nunca visto! Com ela também aprendemos que é possível discordar construindo, mantendo uma identidade intelectual própria, numa demonstração de que a civilidade, a cordialidade são substratos para o verdadeiro diálogo.

I – A escola é sempre um jardim, semeadora de futuros. Nesses anos todos, o que você leva e o que deixa aqui dessa experiência de educar?
LE –
Levo a certeza de que tanto o dever moral quanto o intelectual devem ser ensinados e, socialmente, mantidos e que é, essencialmente, a escola a responsável por isto. Deixo também esta certeza e a alegria de ter contribuído na construção de uma escola viva: que canta, que valoriza o esporte, que reza, que conquista excelentes resultados, seja em olimpíadas, jogos, seja no ingresso de nossos alunos em excelentes universidades. Continuemos na busca por harmonia entre mente, corpo e espírito.

I – Educar adolescentes numa fase delicada da vida, na atual conjuntura, é no mínimo uma tarefa desafiadora. O que você diria para os que hoje se dedicam a esse ofício tanto em sala de aula como fora dela?
LE –
Sugiro que afinem a audição. Esses meninos e meninas estão sempre querendo nos dizer algo. Isso não quer dizer que sejamos um igual. Não somos, nem devemos, nem eles nos pedem isso. Eles nos têm como ancoradouros. Devemos proporcionar o diálogo, além da irrefletida prática. Pensar e falar sobre o sentir, percebendo o existir.

I – O Santa Cecília é uma Escola que cultiva afetos. Os seus, quais os maiores que ficaram nesta Escola?
LE –
Afetos... são o tempo vivido, permitindo a coexistência. Aí cabem pessoas: competentes, profissionais, excelentes companheiros da luta diária. Cabem projetos, construção da fé, lembranças, cumplicidades... Cabem pastilhas que veem silenciosas o tempo passar... Cabe o perdão para o que não foi feito com Amor...

I – O cargo que você ocupou por décadas com muita dedicação, o de coordenação, exige muita capacidade de liderança e de mediação. O que a sua vivência deixa de legado para os que hoje ocupam esse lugar?
LE –
Uma vez li em algum lugar que o tempo em que vivemos não é uma época de mudanças, como costumamos dizer, mas nós somos contemporâneos de uma mudança de época. Por isso, a única coisa possível e útil é a preparação para a mudança. Quero dizer com isto que as mudanças no Colégio Santa Cecília estão se dando há algum tempo. Já há uma preparação, uma fundamentação, uma força, um “bora junto”. Que continuem com esse poder de construir o futuro, construindo a educação.

I – Se você pudesse definir o Santa Cecília em uma imagem, qual seria?
LE –
A sua própria imagem. Uma imagem formada por um processo permeado por experiências humanas riquíssimas, por vida própria, no qual cada participante contribui de forma única, mediatizado por um referencial teórico que abre horizontes e dá significado a sua ação transformadora.

I – Quais são os planos para uma mais do que merecida aposentadoria?
LE –
Este é o meu ano sabático. Estou curtindo a minha família, meu lar. Voltei para o meu grupo de oração e estou vivendo as atividades literoculturais da cidade com meu amor. Estou indo mais ao meu Cariri, vendo a minha mãe, o meu povo.

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