Sentir com o Outro – 3º encontro

Segue texto com reflexões sobre como os pais podem contribuir com essa temática.
02/10/2019

Nesta terceira etapa, o Serviço de Psicologia Escolar e Orientação Educacional realizou, com os alunos do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, o terceiro encontro do Projeto Sentir com o Outro.

Foi proporcionado um espaço para dialogar sobre o ato de compartilhar sentimentos e necessidades com outras pessoas, estratégias pessoais para lidar com emoções percebidas como desagradáveis e orientações sobre o uso da Caixinha dos Sentimentos, que será mais uma ferramenta de partilha e de exercício sobre a identificação e nomeação dos sentimentos.

Por compreender que esse trabalho também pode ser estendido ao ambiente familiar, segue texto com reflexões sobre como os pais podem contribuir com essa temática.

 

Saber lidar com os próprios sentimentos é uma lição que deve ser ensinada às crianças

A alfabetização emocional parte do princípio de que, assim como é possível aprender a reconhecer as letras por sua grafia e associá-las a um fonema, os sentimentos também podem ser identificados e atrelados a determinados comportamentos. Basta saber interpretar as reações que as emoções provocam em nós: lágrimas de tristeza, sorriso largo de alegria, mãos inquietas de ansiedade, a voz que se eleva na hora da raiva. Nossas expressões faciais, gestos, tom de voz e as palavras que usamos refletem o que sentimos. Mas a alfabetização emocional não se limita a decifrar esses sinais. “O conceito inclui saber comunicar os próprios sentimentos de forma adequada e produtiva, perceber que as emoções influenciam as nossas decisões diárias e refletir constantemente sobre como nos sentimos em diferentes situações”, explica a psicoterapeuta Fernanda Furia, fundadora da consultoria em Psicologia e Educação Playground da Inovação e mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London (Inglaterra).

A longo prazo, a alfabetização emocional pode trazer ao seu filho o que se chama de inteligência emocional, que nada mais é do que a habilidade de lidar com seus próprios sentimentos e com os de outras pessoas. Essa capacidade tem sido cada vez mais valorizada tanto no mercado de trabalho como na própria vida escolar. No mundo de hoje é imprescindível saber se relacionar com as pessoas.

Talvez o maior ganho que a alfabetização emocional pode proporcionar seja o crescimento do seu filho enquanto ser humano. “A criança que entende melhor sobre o seu próprio mundo emocional tem uma chance maior de ser ela mesma. E isso tem várias implicações positivas”, afirma a psicoterapeuta Fernanda Furia. Crianças que dominam seus sentimentos tendem a reagir menos intensamente às frustrações, desenvolvem uma autoestima maior, entendem melhor os comportamentos das outras crianças, comunicam-se com mais clareza, estabelecem relações mais amorosas e colaboram mais com as pessoas à sua volta. Em última instância, a alfabetização emocional também atua na promoção da saúde mental, um termo usado para descrever o estado de bem-estar no qual um indivíduo consegue se desenvolver de maneira plena utilizando suas próprias capacidades. “A educação das emoções serve indiretamente como ferramenta para evitar comportamentos autodestrutivos, porque torna o indivíduo mais forte e equilibrado para fazer boas escolhas”, diz Tânia Paris, presidente da Associação pela Saúde Emocional das Crianças (Asec), de São Paulo.

“Muitas vezes, para proteger a criança do sofrimento, os pais tentam minimizar aquilo que ela está sentindo. Se ela quebrou um brinquedo, pode ficar profundamente triste. Um adulto pode olhar e pensar: ‘É só um brinquedo’, mas para a criança, isso significa muito. Por isso, os pais precisam fazer um exercício de separar a causa do sentimento em si”, diz Tânia.

Em vez de dizer: “Não precisa ficar bravo. É só um carrinho”, fale: “Que pena, você gostava desse brinquedo, né?”, abrindo espaço para que seu filho se manifeste. “O pai e a mãe devem ajudar a criança a colocar um nome para o que sente. Fazendo isso com naturalidade, ensinamos que os sentimentos são genuínos”, completa Tânia. E esse processo pode começar muito antes que a criança tenha pronunciado as primeiras palavras.

Outro ponto importante, segundo Fernanda, é ajudar a criança a fazer a ligação entre o que ela sente e o que faz. “Me dei conta de que, quando você está feliz e animada, gosta de pular”. “Estou vendo que você grita muito quando está com raiva”. “Criando um contexto favorável, o bebê e a criança pequena terão espaço para demonstrar as suas emoções, mais livremente e sem julgamentos”, diz a psicoterapeuta. É claro que isso não quer dizer permitir que seu filho jogue coisas no chão ou agrida alguém. Mas tudo bem admitir que dá vontade de fazer isso vez ou outra. Sendo assim, em vez de recriminar seu filho pela reação que ele teve, mostre que você o entende. Use frases como “o papai também tem vontade de se esconder quando está com medo”. Colocar-se nessas situações ajuda a criança a se acalmar e a entender que as outras pessoas passam pelo mesmo que ela e que não há nada de errado com iss

Lembre-se de que todo sentimento oferece ao seu filho a chance de aprender algo, mesmo que nem sempre pareça positivo à primeira vista (e que você fique com o coração apertado). A própria neurociência não coloca mais emoções como raiva e medo sob o rótulo de “destrutivas”. Elas são chamadas agora de “emoções defensivas”, por serem desencadeadas como um mecanismo de autopreservação frente a uma situação adversa. Mesmo provocando certo mal-estar, elas podem ensinar muito ao seu filho. Coragem sem medo vira imprudência, assim como tranquilidade sem uma pitada de raiva pode se transformar em passividade.

A grande chave é mostrar à criança que, além de ser normal ser tomado de vez em quando por sentimentos que não provocam sensações agradáveis, eles são transitórios. Aquela impressão ruim não vai durar para sempre. Relembre um episódio que aconteceu com ele ressaltando como tudo se resolveu depois. Mas saiba que não adianta dizer ao seu filho para não ter medo quando estiver assustado e tremendo nem ensinar-lhe a lidar com a frustração quando ele acaba de tirar uma nota baixa. É preciso manter um espaço aberto para que todos na família falem sobre suas emoções. Pergunte ao seu filho quais são os acontecimentos que o deixaram feliz no dia e os que não foram tão bacanas assim, e conte sobre você.

Sim, você! Aprender a lidar com os próprios sentimentos não é uma lição exclusiva para os pequenos: precisa também fazer parte do processo de amadurecimento dos pais. “Da mesma maneira que não é recomendado minimizar os sentimentos das crianças, não dá para negar os nossos. É fundamental que o pai e a mãe se sintam seres humanos e não super-heróis”, alerta Tânia. Isso quer dizer que esse movimento de reconhecimento das emoções deve acontecer nos dois sentidos: dos pais para a criança, mas também dela para aos pais. “Alfabetização emocional é também aplicar esse conhecimento sobre os sentimentos para melhorar a relação com o próximo”, completa Fernanda. É assim que seu filho vai começar a desenvolver a empatia. Demonstre que você tem dias ruins, perde a paciência, tem vontade de gritar, mas que é possível se acalmar e assumir o controle das emoções, em vez de ser controlado por elas. Esse embate entre cabeça e coração, razão e emoção é uma questão que seu filho terá que aprender a balancear pelo resto da vida. Mas com a sua ajuda, ele pode estar mais bem preparado e confiante. Afinal, não há como controlar os sentimentos, mas é possível encontrar uma forma mais leve de lidar com eles.

1. Identificação — A primeira tarefa é ajudar seu filho a reconhecer o que está sentindo. É preciso identificar qual é a emoção que está causando as sensações que o incomodam, para saber como lidar. É claro que esse é um processo que precisa ser refinado ao longo do tempo. Uma criança pequena dificilmente saberá distinguir entre frustração, ciúme ou orgulho. Por isso, cabe aos pais e cuidadores irem apontando os nomes corretos, para que ela se familiarize com eles e saiba reconhecer a forma como se manifestam.

2. Expressão — Uma vez que a criança consegue dar um nome ao que sente, é hora de ajudá-la a encontrar ferramentas para manifestar essa emoção de forma saudável. E há muitas formas de fazer isso. Dos esportes às artes, ofereça possibilidades para que o seu filho consiga canalizar essa energia que o sentimento desperta para outras atividades.

3. Controle — Sabendo qual é o sentimento que tomou conta de si e tendo à mão recursos para manifestá-lo de forma saudável, a criança tende a deixar de reagir tomada por impulso e assumir as rédeas de seu comportamento. Isso faz com ela possa se tornar mais autoconfiante e lidar com as questões que aparecerem, na escola ou na família, de forma mais leve e tranquila.

Um dos grandes problemas na sociedade em que vivemos é que tanto crianças quanto adultos nem sempre encontram acolhimento para suas emoções. Sentimentos considerados negativos, como raiva, medo, ciúme e a própria tristeza, parecem não ter espaço em um mundo onde as pessoas não podem desperdiçar o tempo e há um imperativo para ser feliz e bem resolvido o tempo todo.

Texto adaptado pelo Serviço de Psicologia Escolar e Orientação Educacional

Fonte: https://revistacrescer.globo.com/noticia/2018/01/saber-lidar-com-os-proprios-sentimentos-e-uma-licao-que-deve-ser-ensinada-criancas.html

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