Carta de Marina Fonseca

Ela é sempre aluna e doutoranda em Microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
04/08/2020

“Eu estudei no Santa por 12 anos. Entrei na alfabetização e fui até o 3º ano (Ensino Médio). São muitas memórias, mas acho que o mais forte para mim são as pessoas do colégio. Até hoje ainda sigo vários professores e funcionários nas redes sociais e amo pensar o quanto essas pessoas maravilhosas foram parte da minha formação. O dia que foi publicado o vídeo sobre o Francimar, eu chorei de pensar nos meus 12 anos recebendo o bom-dia dele com aquele sorrisão!

Durante minha graduação, tive a oportunidade de passar um ano na Inglaterra pelo Ciências sem Fronteiras. Lá eu me inscrevi justamente no programa de microbiologia, pois a graduação funciona de maneira bem diferente e eu já tinha terminado todo o ciclo básico da UFC. Foi um período tão produtivo e cheio de experiência dentro do laboratório, que cheguei a realizar um trabalho de conclusão de curso lá que foi utilizado para a equivalência do TCC aqui. Então, voltei e me formei muito rápido, mesmo com o período longo no exterior. Eu já tinha a intenção de fazer a pós-graduação na USP, por questão de afinidade com as linhas de pesquisa do Departamento de Microbiologia deles. Então estudei bastante para o processo seletivo e já entrei em contato com vários professores de lá.

Minha pesquisa de tese é com genética de bactérias. Estudo aspectos das mutações e suas relações com a resistência a antibióticos. Então eu não cheguei a trabalhar com o novo coronavírus ainda. Tenho apenas acompanhado as atualizações científicas e tentado participar ativamente em eventos de divulgação científica. Acredito que hoje o cientista tem um papel importantíssimo fora do laboratório, e foi um grande erro nosso não manter a ciência próxima da sociedade. Vivemos hoje um momento repleto de obscurantismo, e precisamos mostrar como o método científico foi formulado ao longo de muitas décadas para resguardar os resultados científicos de erros. Necessitamos reconquistar a confiança da população! Todos precisamos da ciência diariamente, mas a ciência também precisa do povo. A ciência deve ser direcionada a partir dos interesses da sociedade, justamente por isso ela sempre será um assunto político e de grande peso para o desenvolvimento de qualquer nação. 

No meu departamento, existem várias pesquisas sobre o novo coronavírus sendo realizadas e, assim como eu, vários alunos se voluntariaram para ajudar em testes hospitalares da rede pública. Chegamos, inclusive, a doar sangue para pesquisas em andamento. Poucos alunos foram recrutados, principalmente pela falta de material disponível em todo o mundo para as práticas diagnósticas.

Em relação à pandemia, sempre fui muito cautelosa acerca de qualquer previsão. Ainda há muito a ser esclarecido sobre as vacinas candidatas, mesmo com testes em estágio tão avançado. É um momento delicado e os testes são extensos por questões básicas de segurança. No método científico, precisamos testar de maneiras diferentes a confirmação de nossas conclusões e também fazer testes que têm objetivo de apenas descartar a possibilidade de erros. Mas, em caso de confirmação final da eficácia, tenho certeza de que essa será a vacina mais rápida da história. Devemos torcer para várias vacinas diferentes chegarem ao mercado, pois necessitamos de bilhões de doses, e isso jamais foi feito antes na história da humanidade.

Podemos, aos poucos, melhorar o cenário agindo de maneira coletiva. Hoje, nossa vacina é o distanciamento social e o uso de máscaras. Essas ações funcionam, inclusive podem contribuir para diminuir os números de casos graves. Novos estudos apontam que o desenvolvimento de doença grave está relacionado à dose inicial de coronavírus, o que indica que o uso de máscaras e distanciamento não só diminuem o risco de pegar a doença como também diminuem a chance de desenvolver complicações em caso de contaminação com o novo coronavírus. Uma representação disso é que os profissionais de saúde tiveram complicações em uma taxa maior que a população, justamente por estarem expostos a cargas tão altas do vírus em seus ambientes de trabalho. Isso é importantíssimo e, em minha visão, aponta para um caminho muito otimista!

Imagino que todos estamos vivendo um momento psicologicamente difícil. Algo que tento falar para todos é que podemos valorizar o esforço que estamos fazendo, seguir as recomendações é um ato que salva vidas. Precisamos tentar ressignificar este período de reclusão, pois é um sacrifício que fizemos por todos.”

Marina Fonseca, aluna do Colégio Santa Cecília por 12 anos, doutoranda em Microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

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