Esporte – Remédio ou Veneno?

O Professor José Carlos reflete sobre a iniciação esportiva precoce das crianças.
31/01/2022

Quem nunca ouviu alguém falar que “A diferença entre o remédio e o veneno pode ser apenas a dose”? Pois bem, esse ditado popular pode ser aplicado também quando falamos de atividade física para todos e, em especial, no caso de esportes para as crianças.

Ao longo de mais de duas décadas de minha atuação profissional dedicadas ao esporte como educador e outros tantos anos como atleta, um fenômeno vem chamando a minha atenção nos últimos anos, assim como a de outros colegas e estudiosos do tema: a iniciação esportiva precoce das crianças. Não que isso seja uma novidade, porém, nos últimos tempos, esse fato, em meu entendimento, aparece de forma mais forte e voraz.

O ponto que aqui apresento não se refere apenas à iniciação, pois quando esta é bem-feita, isto é, respeita as fases do desenvolvimento infantil, utilizando o esporte de forma lúdica e prazerosa para desenvolver as valências motoras e a socialização dos pequenos, bem como contemplando as especificidades de cada um e tendo a inclusão sempre como ponto forte do processo, somos inteiramente a favor.

A questão que trago é a sobrecarga que muitos meninos e meninas são expostos desde tão cedo, com uma quantidade exagerada de treinos e competições. No caso do futebol, isso aparece ainda mais forte, por ser o esporte mais praticado no mundo e com uma grande exposição midiática.

Lembro que todas essas competições trazem expectativas que podem gerar pressões internas e/ou externas, tensão, medo de perder e, muitas vezes, não vêm acompanhadas de suportes psicológicos e emocionais, tão necessários para superar ou lidar com cobranças excessivas. Muitas crianças com idades de 8, 9, 10 e 11 anos jogam duas ou três competições simultâneas, com treinos durante a semana e jogos todos os finais de semana. Em alguns locais, há na mesma categoria/idade uma média de até quatro seleções. Como assim, qual é o real objetivo?

Nesse ínterim, existem aqueles que se diferenciam ou se destacam mais, que, sem dúvida, apresentam habilidades acima da média para determinado esporte. Eles representam uma parcela mínima da população mundial e que também merecem atenção e cuidados nessa formação.

Nas últimas Olimpíadas, Tóquio 2020, a ginasta americana Simone Biles e, agora mais recente, o surfista Gabriel Medina se afastaram das competições, pois precisaram de um tempo para cuidar da saúde mental. Se atletas profissionais necessitam de cuidados nessa esfera, imaginem os iniciantes.

Em nosso Colégio, o esporte é visto como um dos objetos de conhecimento da cultura corporal. Assim, buscamos resgatar os valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendemos o compromisso da solidariedade e respeito humanos, a compreensão de que o jogo se faz “a dois” e de que é diferente jogar “com” o companheiro e jogar “contra” o adversário. Acreditamos no esporte “da” escola, e não no esporte “na” escola. Em nossas modalidades esportivas e seleções, trabalhamos os valores e princípios que norteiam a nossa centenária Escola.

Nossos pequenos da Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais não participam de competições; a partir do 2º ano desse segmento eles podem participar de competições internas, cujas regras são adaptadas, primando pela participação – muito mais importante do que o resultado. Acontece um evento ao ano, pois precisamos de tempo e planejamento, afinal desenvolvemos um projeto, e não apenas uma competição. Nossas seleções se iniciam no 6º ano do Ensino Fundamental Anos Finais, fase em que existe um mínimo de estrutura para participarem de competições externas. Contudo, o foco continua sendo o processo, e não o fim.

Venham conhecer a nossa metodologia. Venham fazer esporte e se divertir conosco!
Esperamos vocês.
Professor José Carlos Barbosa de Sousa

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