Natal Solitário
É bem verdade que aquela cena de Natal na qual a família está junta em torno da mesa celebrando a vida, entre sorrisos, ceia e presentes, embora seja a realidade de milhares de pessoas, não significa que é a experiência de todos.
Muitos são os motivos que acabam impulsionando outras pessoas a viverem o Natal de outra forma: distância de casa, dificuldade de relacionamento com outros membros da família, dificuldade de saúde, dificuldade financeira...
Como a alegria, ou mesmo a tristeza, pode não escolher o dia, vezes esse momento de Natal é uma lembrança dolorosa para alguns.
Aí é que entra uma sutileza do Natal: Jesus, o garoto amor, nasceu de maneira muito discreta e pobre. Teria esse fato algum significado?
Alegrar-se e celebrar a vida juntos, em festa, é maravilhoso, mas o que vale mesmo é o que se passa no nosso interior. Nesse ponto, ninguém pode julgar ninguém. É íntimo e pessoal.
No entanto, entre essas sutilezas do Natal, há alguns, numa sintonia fina e solidária, que se propõem a se deslocar para levar presentes para outros que não os receberiam de outra forma, para acolher os que estão distantes dos seus lares, para colocar-se ao lado dos doentes nos hospitais, ouvir os que estão cheios de ansiedade e medo. Seriam esses os Reis Magos? Talvez! Talvez apenas pessoas comuns.
Como o Natal pode ter sido ontem, quão grato sou àqueles que exercitam o gesto de sair ao encontro do outro sem holofotes e câmeras.
Temos que nascer para o amor, e parece que não é missão muito fácil.
Talvez esse amor vá acontecendo aos poucos, sem grandes alardes, em meio a experiências alegres e dolorosas, em meio a gestos de acolhimento, situações de perdas, de renúncia, de recomeços.
O que mais desejo mesmo é que, para cada Natal Solitário, tenha uma só pessoa disposta a se jogar no Natal Solidário, seja de qual forma for, pois o que mais conta é invisível.