Tecendo Diálogos sobre Ansiedade

Tecendo Diálogos sobre Ansiedade

Ansiedade na atualidade: um mal-estar constante!
20/05/2022

 

Os tempos atuais e todas as suas intensas e rápidas transformações trouxeram inúmeros desafios para nós, sociedade. Um deles é o de ter que lidar com o estado de ansiedade no qual estamos vivendo nossos dias. 

A palavra ansiedade, antes restrita a um vocabulário adulto, ganhou espaço nos corredores escolares, nas saídas com os amigos e nos aplicativos de conversa on-line, fazendo parte do discurso de crianças e adolescentes e permeando suas inúmeras experiências no mundo.

A ansiedade é um mal-estar que destrói, gradativamente, a segurança e a autoestima de forma ampla, pois dá força aos pensamentos negativos e catastróficos. Ela afeta também a percepção de si e do outro e faz questionar até o que era certeza e trazia estabilidade. Além disso, o estado ansioso pode promover um adoecimento crescente ao ponto de impedir que atividades corriqueiras sejam realizadas.

No entanto, a ansiedade, como emoção, não é por si só ruim ou desagradável. Ela faz parte da vida e é tão necessária e vital como muitas outras emoções, pois também tem a função de mobilizar, de gerar o movimento de sair do lugar e de dar passos em busca do que se quer e procura. Ela é também um mecanismo de defesa importante em momentos de risco, sendo essencial para a busca de estratégias para a sobrevivência. 

 Mas como a ansiedade deixa de ser funcional e passa a ser patológica? São muitos os fatores biopsicossociais que fomentam esse adoecimento em nossos tempos. 

A vida “fast-food”, onde tudo precisa ser para ontem e as crianças e os adolescentes esperam que seus desejos sejam realizados de forma imediata, é um dos fatores importantes, pois remete à dificuldade de não tolerar a frustração de esperar por algo.

O mundo virtual também é considerado um forte fator ansiogênico (gerador de ansiedade) presente no nosso cotidiano, pois, a partir dele, saem diversos estímulos cognitivos e emocionais que os tiram da experiência presente, do que é vivido no aqui e agora. Cercados de recompensas imediatas, nossos filhos não aprendem a lidar facilmente com a ideia de construção, de processo e de investimento gradativo em algo para, posteriormente, colher seus resultados e usufruir dos seus frutos.

As redes sociais e suas diversas estratégias lúdicas e sinestésicas (que usam dos sentidos para construir percepções das informações) acabam por estimular uma comparação prejudicial à identidade e à autoestima, pois tendem a apresentar um padrão de status social, de beleza/imagem corporal e de sucesso incompatíveis com a grande maioria da população que consome seus conteúdos.

Ser produtivo, ser multifacetado, estar a par de tudo, ser popular, vestir-se bem, ter muitos amigos, sempre ganhar, entre outras, são cobranças que afetam diretamente a humanidade nesta sociedade do consumo e da competição, e não tem idade que não seja atingida por tamanho peso.

Sabendo que somos frutos destes novos tempos, devemos entender que não é possível nos blindarmos de tudo isso. Ao contrário, conhecendo sua força destrutiva, devemos partir para o enfrentamento, através da construção de recursos emocionais que sustentem a aceitação de si, em termos de potencialidades e limitações; que promovam o enraizamento dos valores humanos, que agregam e, por isso, diminuem a solidão e a individualidade; e que priorizem o autocuidado, proporcionando uma vida mais equilibrada e saudável.

Crianças e adolescentes aprendem com o nosso exemplo, mas também necessitam de cuidados específicos quanto à prevenção aos transtornos de ansiedade. Por isso, devemos ficar atentos àquilo que eles falam sobre si mesmos e o quanto parecem aceitar seu jeito, seu corpo; como lidam com os desafios, os medos e as preocupações; se existe, constantemente, vergonha e culpa na sua relação com os demais; e que tipo de pensamentos ocupam sua mente e se estes são geralmente ruins. 

Os sinais de alerta mais comuns são as mudanças de comportamento, como isolamento, instabilidade emocional, alteração alimentar ou na rotina de sono. É importante ficar atento aos sinais físicos no corpo, como movimentos repetitivos, marcas de machucados, inquietação motora, respiração ofegante e sintomas gastrointestinais e dermatológicos. Pensamento acelerado, ideias repetitivas e/ou intrusivas, dificuldade de manter a concentração, perfeccionismo, pessimismo constante e extrema preocupação com o futuro também devem ser observados. 

No caso de existirem indicativos de eles estarem mais ansiosos em circunstâncias que teoricamente não são ansiogênicas, não hesite em buscar um profissional especializado em saúde mental. O tratamento adequado e precoce, desde os sintomas iniciais, pode dar resultados muito positivos e evitar o desenvolvimento de transtornos ligados à ansiedade, como a fobia social, o transtorno obsessivo compulsivo, o transtorno de pânico, etc.

A saúde mental é uma das principais preocupações dos órgãos mundiais de saúde. Os números crescentes de adoecimento nos revelam que ainda há muito a fazer para que nosso modo de viver seja transformado em benefício à longevidade e à qualidade de vida. 

Conhecer, conversar e buscar ajuda são passos valiosos em direção ao autocuidado e ao autoconhecimento. Sigamos juntos na construção deste caminho de promoção de saúde e bem-estar, visando às nossas crianças e adolescentes, mas também englobando toda a comunidade escolar.

 

Serviço de Psicologia Escolar – SPE

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