A “dona” dos enroladinhos de queijo

Irmã Miriam Marta fechou seu ciclo de vida entre nós aos 94 anos, no dia 10/01/2021.
20/01/2021

Era final de 2019, nem imaginávamos que adiante viria uma pandemia, quando publicamos nossa última edição impressa da Revista Interatividade. Em meio aos registros de tantos encontros, aquele ritmo intenso de final de ano que conhecemos tão bem na Escola, uma pausa no tempo para um cafezinho. Foi uma tarde para se demorar, ouvir sobre o passar dos anos, sobre fé e perseverança. 
Dias depois da passagem de Irmã Miriam Marta, ela que era a detentora dos segredos do tão saboreado enroladinho de queijo, reproduzimos de novo aquela conversa, um pequeno gesto de gratidão.    

O encontro do futuro com o passado

Irmã Tarcísia me recebe na porta de entrada de casa, um gesto que só reforça sua elegância habitual. Ela e Irmã Miriam Marta fizeram as honras da casa, tomaram-me pelo braço e apresentaram os cômodos daquela residência tão delicadamente projetada para elas, as pioneiras, religiosas da Congregação que aqui chegaram a 30, 50, 100 anos e que são responsáveis por estarmos todos aqui hoje, abrindo nossa outra unidade. Elas são memória viva de um caminho aberto com coragem. 

A visita se inicia com uma alegria pujante. Passamos pela Capela, pela sala ampla, pela mesa farta da cozinha, pela moça que costura com a máquina voltada para uma janela vívida de plantas. "Que cenário bonito o da sua janela!", digo. "Adoro trabalhar aqui", responde, sorridente. O que mais me chama a atenção é a luz que entra por todos os espaços, fazendo daquela morada coletiva um lugar que nos abraça, que dá vontade de ficar. 

Sentamos em volta da mesa para falar de outros tempos, aqueles em que a Escola começava a levantar suas estruturas na então "avenida Estados Unidos", onde quase nada havia de casas e movimentos. Foi um período de muito trabalho, muita coragem e esperança em abundância. "Sempre soubemos que daria certo", abre-se em sorrisos Irmã Miriam Marta, com as certezas de seus 92 anos, testemunha ocular da força de mulheres que optam pela vida religiosa e pela ousadia de dedicar-se integralmente à juventude. 

Era década de 1960 quando Irmã Miriam Marta abraçou essa nova missão na vida e participou da transferência das religiosas do Benfica para a Aldeota. Irmã Tarcísia, 85 anos, chegou mais ou menos 20 anos depois. Cada uma guarda seus achados de memória e a conversa se assemelha àquelas que acontecem quando abrimos um álbum de família e vamos confrontando lembranças, rindo juntas, narrando as próprias histórias. 

O som ao redor. A memória sonora é afetiva demais para as duas. Irmã Miriam Marta se lembra de cor o Hino da Escola, de ouvi-lo soar da boca das crianças todos os dias de manhã cedo. "Colégio Santa Cecíliaaa. Estudamos em famíliaaa ..." É do burburinho das entradas e saídas dos alunos, do som ambiente alegremente estrondoso que Irmã Tarcísia não abre mão. Com a mudança, ela escolheu o quarto com a janela que olha para a Escola, justamente para não perder sua "sinfonia" matinal. Aliás, todas as manhãs ela sai de casa devagarinho, atravessa a rua e vai ter com suas crianças da Educação Infantil, um hábito de muitos anos. 

Irmã Tarcísia levanta-se e volta com um par de desenhos feitos para ela pelas crianças. Nos dois, estão Verinha, a guardiã da Educação Infantil, sua grande companheira estes anos todos, que posiciona sua cadeira para que ela se sente e abrace fartamente as crianças. Mas de seus lugares diletos no Colégio Santa Cecília, Irmã Tarcísia não esquece a capelinha que ficava na passagem para os dormitórios. "Só não entrava quem não queria, estávamos sempre nos deparando com Jesus", diz. Jogo a pergunta para Irmã Miriam Marta e ela me devolve com uma revelação: a cantina foi sempre seu lugar de predileção, ela que fazia os famosos enroladinhos de queijo, citados tantas vezes por gerações. "Quando saí da cantina, foi um pesar. Sempre gostei muito dos sabores de lá", revela. 

Apresso-me em indagá-las: o que levariam para a nova unidade Santa Cecília no Eusébio, caso fossem convidadas a integrar o novo projeto. "Minha filha, estou com 92 anos, o que eu vou fazer lá?", responde às gargalhadas Irmã Miriam Marta. Ah, mas levaria o projeto Fórmula 1, aquele ritmo acelerado das corridas e o frescor da juventude. Irmã Tarcísia abriria mão dos objetos, sua resposta é vigorosa: "Levaria Verinha". A conversa termina em torno da mesa farta, das memórias de Dom Hélder e outros santos homens, santas mulheres.

Janaina de Paula - Jornalista do Colégio

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