Entrevista com Irmã Eulalia

Nossa Madre Geral visitou o Santa Cecília na última semana.
08/11/2019

Há um provérbio oriental que diz: “Não há caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho”. Irmã Eulalia Maria Vanderley de Lima, Madre Geral do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã, parece encarnar tais palavras. Hoje ela traça seu caminho pelo mundo entre o Brasil, a Europa e a África. Caminha e escuta. Senta-se à mesa, faz de sua gestão o exercício de diálogo permanente. Despojar-se cada vez mais, entender a simplicidade como virtude inesgotável estão nítidos no seu horizonte. Nos dias em que esteve em Fortaleza para abraçar suas Irmãs e toda a comunidade educativa do Colégio Santa Cecília, abismou-se com o crescimento da Escola, tão bem gerida por suas sucessoras Irmã Patrícia e Irmã Elda. Outra lição: saber passar o bastão e confiar. Ela volta e traz de si um gesto tão característico: abraçar com calor. Olhar para tudo como se fosse a primeira vez, com olhos marejados, ensinando-nos que a felicidade está no nosso modo de caminhar.

 

Colégio Santa Cecília – Há quatro anos, a Senhora deixou a Direção do Colégio Santa Cecília para assumir novas missões e, neste retorno para alguns dias de visita, é recebida calorosamente, como aconteceu na noite do Criações Literárias. Como se sentiu com tantos aplausos e abraços?

Irmã Eulalia Maria – É uma alegria estar naquele ginásio e rever muitas famílias e alunos, perceber a continuidade da Missão e dos projetos existentes de forma crescente; perceber o acolhimento a nossa proposta educacional em Fortaleza e a fidelização. Foi uma alegria rever as pessoas e perceber que a amizade permanece depois de tantos anos. Como é gratificante a sermos bons, eu pensei, deixar marcas afetivas que também é nossa Missão, porque foi a de Jesus Cristo, e essa é uma forma de fazê-lo ser reconhecido. Então fiquei muito feliz em rever amigos, naquele ambiente de um projeto belíssimo que é o Criações Literárias, que incentiva a criatividade dos alunos e, este ano, traz o tema do sertão, um lugar sofrido, mas fértil para a literatura, e necessário como tema para despertar o nosso olhar para sua transformação, que possa dar frutos para a população, com a possibilidade de plantar, ter escolas rurais, saúde e que não seja desprezado, como acontece tantas vezes.

 

CSC – A Senhora assumiu uma Missão muito ampla, que é estar à frente do Instituto das Religiosas da Instrução Cristã no mundo, com abrangência em três continentes: América, Europa e África. Como está a sua vida hoje? Como tem sido abraçar um desafio tão grandioso?

Irmã Eulalia – Nossa fundadora tem uma frase que sempre foi inspiração para mim: “A Missão vem acompanhada das graças necessárias”. Quando eu fui escolhida pelas Irmãs para dirigir o Instituto, essa frase me tocou de maneira muito forte, junto com outra frase de Madre Agathe Verhelle: “Andemos juntas e jamais nos separemos”. Esse pensamento, agregado à fundamentação do Evangelho, que tem de olhar sempre para os ensinamentos de Jesus Cristo, é que tem me dado a graça de viver esta Missão tão desafiadora, que eu jamais pensei em assumir. Mas me sinto muito impulsionada pelo Espírito Santo e também muito apoiada pelas Irmãs que comigo formam o Governo Geral e as Provinciais. Visitar o Brasil com outra visão, não só a educacional, mas também na perspectiva da vida religiosa, visitando as comunidades, escutando as Irmãs e enfrentando os desafios próprios do nosso País é bem diferente do que já vivi. Assim como tem sido enfrentar as singularidades das culturas da Europa e da África. Percorrer esses três continentes onde estamos inseridas tem me trazido um grande aprendizado. Hoje o contexto da Europa também é muito desafiador dentro do nosso carisma de sacrificar-se e consagrar-se inteiramente à juventude, quando vemos os jovens impregnados pela irreligião e impiedade. A Europa passa por um processo de dessacralização, tem o problema da imigração, são várias culturas presentes e nos exigindo adaptações, mas Graças a Deus temos conseguido ultrapassar os enfrentamentos e trazer o novo para o Instituto. Chegar à África é outro desafio, é outro mundo, sofrido, que precisa ser regatado e conquistar sua autonomia e independência. Entrar em contato com as Irmãs que vivem lá é fortalecê-las para terem otimismo, esperança e viverem na fé. Tenho aprendido muito com essas realidades, a conviver com tantas privações, a me despojar cada vez mais, a ser muito mais simples, a me adaptar aos horários e à gastronomia... Mas tenho vivido tudo isso com muita esperança, apesar dos desafios tenho tido muitas alegrias pelo fato de juntas, como diz a nossa fundadora, caminharmos sem jamais nos separarmos. Os desafios da vida religiosa hoje no contexto mundial são muitos e ainda assim temos a graça de, este ano, termos uma nova fundação em Uganda, outro país da África, e, em 2020, teremos uma nova realização na pastoral da juventude em Verviers, na Bélgica, uma cidade que foi muito rica e que recebe muitos migrantes reunindo 56 idiomas.

 

CSC – O que a Senhora definiria como sua marca nestes quatro anos de gestão?

Irmã Eulalia – Eu diria que a marca é da comunhão e da unidade. Uma gestão não pode ser feita só, ela tem que ser compartilhada. E assim temos feito, tudo vai para a mesa, é dividido com as conselheiras e as provinciais, juntas buscamos o que é melhor, como o Instituto pode responder aos desafios da Igreja hoje, aos apelos do Papa Francisco, que pede uma Igreja e uma vida religiosa em saída, que olhe as necessidades dos pobres, dos marginalizados. O diálogo e a escuta do Espírito Santo são a nossa marca.

 

CSC – A gente vive em um país muito violento para as mulheres, recordista em feminicídio e a Congregação Damas é uma referência de força do feminino e de pioneirismo na educação. Como a Senhora se sente sendo uma referência importante no Brasil para a Religião Católica e para a Educação?

Irmã Eulalia – Olhar a figura de diversas mulheres na Bíblia, especialmente Maria mãe de Jesus, e perceber como viviam naquele mundo judaico em que não eram valorizadas é inspiração para mim. O episódio das Bodas de Caná é muito especial, não esqueço quando estive lá e visitei aquelas salas que eram dos homens e das mulheres, separadamente, não se misturavam, e Maria ultrapassou, quebrou aquela norma e teve a coragem de ir à sala onde estavam só os homens para dizer ao seu filho que estava faltando vinho. Hoje também na Igreja a mulher é muito mais valorizada pelo Papa Francisco, que gostaria de ver uma representação paritária na Cúria, com 50% de homens e 50% de mulheres. Viver na vida religiosa é acreditar no potencial feminino, que tem dado seu testemunho de que a mulher pode protagonizar e ter seu papel na Igreja, lutando pela dignidade humana em situações das mais adversas como acontece na África.

CSC - Essa é a visita mais demorada ao Santa Cecília. Qual a maior alegria neste reencontro e o que a Senhora leva?

Voltar ao Santa Cecília é sempre uma alegria! Reencontrar as Irmãs da comunidade, os profissionais que sempre foram grandes colaboradores, os alunos e os pais. Outra alegria maior ainda foi perceber o dinamismo desta Escola, uma lição de que devemos saber passar o bastão, não ter medo de ser substituído porque só somos insubstituíveis nos planos de Deus. Então, o Santa Cecília está muito bem, crescendo com a Direção de Irmã Patrícia e Irmã Elda, a quem sou extremamente grata. O que levo sempre do Santa Cecília é esse espírito inovador, esse sentimento de família e de afeto tão característicos. Trabalhar em conjunto é uma coisa que aprendi muito fortemente aqui, respeitando o diferente, entendendo que a diversidade forma a unidade e as opiniões diferentes são uma riqueza para a construção do novo.

 

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