Obesidade infantil

09/04/2013

Dra. Eveline Gadelha, mãe de alunos do Santa Cecília, apresenta os resultados de uma pesquisa em Fortaleza sobre obesidade infantil. Os dados são reveladores. Leia o artigo na íntegra: 

A prevalência mundial da obesidade vem crescendo de um modo assustador nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma verdadeira epidemia. A obesidade infantil é ainda mais preocupante, pois a dislipidemia, hipertensão e intolerância à glicose, fatores de risco para o diabetes melitus tipo 2 e as doenças cardiovasculares que eram mais evidentes em adultos têm sido cada vez mais observados em crianças e adolescentes.

Dados recentes do IBGE (POF 2008-2009) revelaram uma prevalência de obesidade na faixa etária de 5 a 9 anos de 13,2% em meninos e 8,9%, em meninas do Nordeste. No Brasil, a obesidade já atinge 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas. Atualmente, estima-se que 51,4% dos meninos e 43,8% das meninas com idade entre 5 e 9 anos apresentem sobrepeso ou obesidade, retratando um aumento nos últimos vinte anos de 169% e 206% em meninos e meninas, respectivamente.

Em Fortaleza, tive a oportunidade de avaliar, no período de 2011 a 2012, 1.008 alunos em dez escolas da rede privada de ensino em nossa cidade, na faixa etária de 4 a 9 anos. A prevalência de obesidade foi 13,8% em meninos, 7,2% em meninas e 10,5% no total. Essa frequência variou entre as escolas de 5,5% a 15%, fato este que nos leva a algumas reflexões.

A epidemia de obesidade vem sendo atribuída a fatores ambientais, mudança dos hábitos alimentares e aumento do sedentarismo. Vários fatores são importantes na gênese da obesidade, como os genéticos, os fisiológicos e os metabólicos, mas este crescente aumento parece estar mais relacionado às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. O aumento no consumo de alimentos ricos em açúcares simples e gordura, com alta densidade energética, e a diminuição da prática de exercícios físicos, são os principais fatores relacionados ao meio ambiente.

A obesidade infantil está inversamente relacionada com a prática da atividade física sistemática, e diretamente relacionada à presença de TV, computador e videogame nas residências, além do baixo consumo de verduras. Estudar em escola privada e ser unigênito tem sido apontado por alguns estudos como os fatores preditivos na determinação do ganho excessivo de peso, demonstrando a influência do fator socioeconômico e do microambiente escolar. O acesso mais fácil aos alimentos ricos em gorduras e açúcares simples nas cantinas, assim como a maior disponibilidade de recursos tecnológicos, como computadores e videogames, poderia explicar de certa forma a maior prevalência da obesidade encontrada entre os alunos de escolas particulares. Contudo, esses dados não estão de acordo com os encontrados em países desenvolvidos, onde existe uma relação inversa entre o nível de educação ou socioeconômico e a obesidade.

Outro aspecto que tem sido discutido sobre os fatores relacionados à epidemia da obesidade é a contribuição do aumento das porções dos alimentos servidos nas cantinas, em restaurantes, bares e supermercados. A evolução dos tamanhos das porções de alimentos oferecidas em alguns estabelecimentos nos EUA, nas últimas décadas, é algo muito evidente. Como exemplo, o tamanho da porção de batata frita oferecida aos consumidores em meados dos anos 50 representava 1/3 do maior tamanho oferecido em 2001.

Diante do que foi discutido e dos números apresentados, percebe-se a importância da implementação de medidas intervencionistas no combate e prevenção desse distúrbio nutricional em indivíduos mais jovens. Algumas áreas merecem atenção, sendo a educação, a indústria alimentícia e os meios de comunicação os principais veículos de atuação. Medidas de caráter educativo e informativo, através do currículo escolar e dos meios de comunicação de massa, assim como o controle da propaganda de alimentos não saudáveis, dirigidos principalmente ao público infantil, e a inclusão de um percentual mínimo de alimentos in natura no programa nacional de alimentação escolar e redução de açúcares simples são ações que devem ser praticadas.

Desde 2001, existe no Distrito Federal o projeto "A escola promovendo hábitos alimentares saudáveis", que visa promover a alimentação saudável no ambiente escolar. Esse projeto está vinculado ao Observatório de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília, que tem como uma de suas linhas de pesquisa a promoção da alimentação saudável. Assim, esse Observatório realizou um estudo com crianças de 4ª a 7ª série em uma das escolas participantes do projeto, na qual se transformou uma cantina normal em uma cantina saudável. O resultado da pesquisa mostrou que 98% dos alunos entrevistados gostaram do novo tipo de cantina e 33% dos alunos aumentaram o consumo de alimentos saudáveis depois que essas mudanças foram instituídas.

No dia 05 de setembro de 2012, o Ministério da Saúde, em parceria com a Federação Nacional das Escolas Particulares, lançou o Manual das Cantinas Escolares Saudáveis: promovendo a alimentação saudável, em Porto Alegre (RS). O objetivo é incentivar as cantinas de escolas particulares a se transformarem em cantinas saudáveis, comercializando alimentos nutritivos e menos calóricos, cabendo à família e à escola atuar conjuntamente na promoção da educação alimentar para o combate à obesidade infantil.

Eveline Gadelha Pereira Fontenele - mãe de três alunos, endocrinologista e doutoranda em Biotecnologia pela RENORBIO/UFC.

 

Fonte:
Cecília L. de Oliveira, Mauro Fisberg Obesidade na Infância e Adolescência – Uma Verdadeira Epidemia Arq Bras Endocrinol Metab vol 47 nº 2 Abril 2003
IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil, Ministério da Saúde e Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
http://www.brasilescola.com/saude-na-escola/conteudo/cantinas-escolares-...

Veja, em anexo, informações sobre o projeto de novos hábitos alimentares do Santa Cecília.

AnexoTamanho
alimentacao_saudavel_0.pdf26.36 KB

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